Em comemoração aos 16 anos da Lei Maria da Penha, o Senado aprovou o projeto de Lei 3.855/2020, instituindo o Agosto Lilás, uma iniciativa que define o mês de agosto como de proteção à mulher. A iniciativa de ter um mês voltado à proteção da mulher torna visível a rede de atenção à mulher nas cidades e estados onde ela está. Como uma consequência, o projeto permite que as pessoas vejam e discutam sobre os casos de violência, questionando as “verdades” a respeito do que é ser mulher e qual o seu lugar na sociedade.
Sobre o assunto conversamos com a professora do curso de Psicologia da Faculdade São Luís de França, Marcela Teti, que falou sobre a importância de se discutir sobre esse tema como forma de conscientizar a população e encorajar as mulheres vítimas. De acordo com a psicóloga, em uma sociedade patriarcal como a Ocidental Moderna, a mulher é constantemente colocada como coadjuvante e tratada de forma pejorativa pelo processo civilizatório.
“De um lado, ela é colocada como a ama do lar, recatada e obediente, responsável pelo cuidado do ambiente doméstico e do desenvolvimento dos filhos. De outro, ela é posta como a selvagem natural, lasciva, objeto de satisfação de desejos. Nos dois casos, observamos a mulher como condição de objeto. Seja como burguesa ou naturalizada, estando à margem da sociedade, a mulher não é representada como partícipe da coletividade a que pertence. Esta forma de simbolizar o feminino apresenta a mulher como objeto, quiçá “presente da criação”, para fortalecimento e desenvolvimento dos homens”, ressaltou.
Ainda segundo Marcela, a campanha do Agosto Lilás vem num momento oportuno para chamar a atenção de que estas formas de entender o feminino na sociedade produzem violência. Tanto a mulher obediente, como a selvagem, são instrumentos que devem ser controlados e domados. “É esta ideia de que a mulher é propriedade de um homem que coloca para eles o direito de agredir fisicamente, verbalmente, sexualmente, patrimonialmente ou o direito de matá-las. É este modo também de se enxergar que impõe às mulheres que elas são inferiores, não tão inteligentes. A analogia de que toda mulher é uma flor só representa o papel de enfeite que ela exerce em muitas famílias”.
A fim de evitar situações de violência doméstica ou de proteger as mulheres para que não se tornem vítimas, todas as profissões devem se engajar em entender o ser humano como digno de direito. A profissional também destaca que fazer parte de uma família, não faz da mulher propriedade de ninguém e uma vida afirmativa deve ser preservada.
“No tocante à Psicologia, faz-se mister debater e colocar a situação de violência feminina em primeiro plano. Nossa profissão é majoritariamente de mulheres, cerca de 80% das profissionais formadas, e a clientela é feita em sua maioria de mulheres. Estas mulheres que chegam ao consultório, muitas delas aparecem para serem “consertadas”. Sofrem de depressão e de ansiedade, sentindo-se culpadas por não atenderem ao papel de mulher que a sociedade as impõe. Muitas mulheres querem ter voz, liberdade para sair com as amigas, direito a comer o que têm necessidade de trabalhar na profissão que escolheram. Assim, é missão nossa reconhecer esta condição de violência social e promover autonomia e empoderamento, para que esta mulher possa ser e fazer o que ela quiser”, finalizou.