Você já ouviu falar sobre a Síndrome do Impostor? Esse é um transtorno relativamente novo e comum principalmente entre pessoas que atuam em profissões competitivas. Mais de 70% da população mundial tem sintomas relacionados à Síndrome, insegurança e dúvidas em relação à própria capacidade, num contexto profissional ou acadêmico.
Para esclarecer sobre as características deste tipo de transtorno, conversamos com o professor de psicologia da Faculdade São Luís de França, Jameson Thiago Farias Silva, que tirou algumas dúvidas a respeito do problema.
De acordo com o psicólogo, é importante frisar que, apesar do nome, a condição é uma “síndrome” menos no sentido biomédico de um conjunto de sinais e sintomas patológicos e bem mais um padrão comportamental, em que o sujeito põe em dúvida de maneira sistemática suas realizações e teme ser exposto como uma fraude, uma farsa, como não sendo “tudo isso”. “É uma conduta situada, sempre situada, e deve ser discutida e analisada mais em seus aspectos sociais, coletivos, que de maneira individual, mental”,afirmou.
O profissional também explicou que as características da síndrome seriam certa autopercepção de falsidade intelectual, uma percepção de que “sou incompetente” ou “sou competente, mas não o suficiente”, que levariam o sujeito a não se considerar pertencente ao coletivo que ocupa – um grupo de estudo, de amigos, uma empresa etc. – e, indiretamente, se autossabotar. “No entanto, falar que o indivíduo constrói “na cabeça dele” uma representação inadequada de si mesmo é dizer pouco. Falar da condição como simples transtorno de percepção não dá conta do mais importante: sua causa. Se o sujeito em algum momento aprende e introjeta esta dinâmica é porque ocupou, de modo sistemático, situações que produziram nele tal dinâmica: um ambiente de trabalho absurdamente competitivo, demandas de produção irreais, falta de reconhecimento, baixo retorno financeiro em relação ao montante de esforço despendido, etc”, completou Jameson.
Embora seja possível afirmar que tanto homens como mulheres possam ser igualmente afetados por tal condição, não se pode esquecer de seu caráter situacional. Mulheres pesquisadoras, por exemplo, publicaram menos que seus colegas homens na pandemia, pois se para o pesquisador, no geral, a pandemia significou “trabalhar em casa”, para a pesquisadora significou um “gerir trabalho e casa ao mesmo tempo”, dada a precária repartição de tarefas no ambiente doméstico; um outro exemplo é o do homem negro que não se vê representado pela empresa na qual trabalha ao constatar que todos os ocupantes de cargos de chefia são brancos.
“Falar que sofrem de “síndrome do impostor” é apenas descrever o efeito, mas ignorar a causa, o cerne da questão: os grupos sociais mais afetados por tal condição são, justamente, os grupos que mais costumam ser desacreditados de suas conquistas, ou aqueles que precisam trabalhar o dobro para serem vistos pela metade. É por isso que uma clínica psicológica legítima deve tanto criar estratégias para tornar flexível e adaptativo o sujeito que sofre de tal condição como também problematizar o contexto que a produz”, finalizou o psicólogo.